quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobre chorar



Certa vez me disseram: “Eu gosto do gosto das minhas lágrimas!”. Uma frase assaz esquisita, admito, mas isso não vem ao caso. O que interessa é que, nesse momento, pensei: “Não me lembro do gosto das minhas lágrimas”.


O choro pode ser de tristeza; pode ser de alegria; pode ser de raiva; pode ser de saudade; pode ser de frustração; pode ser de amor; pode ser de desespero; pode ser escandaloso; pode ser silencioso; pode ser desnecessário; pode ser em vão. Poucas expressões (ou ações) humanas são capazes de representar essa miríade de sentimentos e sensações. O choro é uma expressão universal de vários sentimentos humanos. O choro não se critica ou julga; se entende. Por ele pedimos socorro, pedimos atenção, pedimos um abraço. O choro fala. Assim, não chorar não significa ser mais forte do que os que choram: significa abdicar de tudo aquilo que as lágrimas nos oferecem; significa ficar em silencio quando é preciso falar; significa, simplesmente, não mostrar aos outros aquilo que se sente.


Uma vez me disseram que o choro é catártico. Pode ser. O que não se pode (ou não se consegue) dizer em palavras pode ser dito através das lágrimas. Ora, muitas coisas não precisam ser expressas em palavras. Não mostramos que amamos dizendo “eu te amo” – e sim a cada pequeno gesto de amor –; não mostramos que odiamos dizendo “eu te odeio” e não mostramos que estamos tristes dizendo “estou triste” ( na verdade, não necessariamente). O choro, universal, miscelâneo (?), é capaz de dizer tudo isso, seja ao mesmo tempo ou não.


Já me disseram: “Não adianta chorar o leite derramado”. Eu, particularmente, discordo. Mas, afinal de contas, que credibilidade teria alguém que não chora para falar de choro? A credibilidade de quem já viu muitos chorarem.

Rafael de Paula

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