Desde o ano passado não é mais necessário o diploma de curso superior para exercer a profissão de jornalista. Foi uma decisão que desvalorizou a profissão, o esforço daqueles que dedicaram anos de sua vida em estudo e desvalorizou a arte de transmitir a informação para o outro. Ora, se não é necessário diploma, qualquer um é capaz de entrevista, escrever uma matéria, planejar um programa de rádio ou TV, dentre outras atribuições destinadas à figura do jornalismo. Pelo menos essa é a lógica de quem aprovou a lei. Não é que eu concorde com isso tudo, mas acho que a função de jornalista realmente não precisa de curso superior. Precisa de talento. O meu medo é o ingresso de pessoas na imprensa que não tem a menor competência e capacidade para transmitir a informação. O meu medo é que a imprensa perca toda a sua credibilidade e respeito e, ainda, que a qualidade dos produtos midiáticos caia vertiginosamente. Afinal, acreditam que qualquer um pode ser jornalista, e não é bem assim.
Com relação ao assunto, há um vídeo em que Rodrigo Amarante é, de certa forma, grosso com um repórter que o pergunta se “incomoda o fato de Los Hermanos ser uma banda sempre lembrada pela música Ana Júlia”. Irritado, Amarante diz que Los Hermanos “não é sempre lembrado por essa música” e que o repórter está mal informado. Discutirei, primeiramente, o fato de Amarante ter ficado irritado com a pergunta. Vejo duas possibilidades: a primeira é o fato do músico reconhecer que a banda é muito mais lembrada por essa música do que ele gostaria; a segunda é o fato de baterem nesta tecla recorrentemente, sendo que isso não faz sentido algum. Sinceramente, não sei qual das duas teorias se aplica – ou mesmo se alguma delas se aplica. Agora vou discutir a pergunta do repórter. Como admirador da banda, digo que Anna Júlia é uma das suas piores músicas, e a grande maioria dos fãs acha o mesmo (pelo menos a maioria dos fãs que eu conheço). Desta forma, acredito que o repórter realmente não sabia muito bem o que falava e provavelmente pesquisou pouco para fazer a entrevista, como o próprio Amarante comprovou ao perguntar se ele já tinha ido em um show da banda. É aí que eu me pergunto: o jornalista não deveria ter ido aos shows para fazer esta entrevista? Ou, no mínimo, não deveria ter pesquisado sobre o assunto com os fãs?
Agora pretendo discutir a preparação dos jornalistas antes de fazerem uma matéria, entrevista ou reportagem. O jornalista citado acima não se preparou para entrevistar o músico Rodrigo Amarante. Agora cabe a pergunta: a culpa é somente dele? Julgo-o parcialmente culpado. Há algum tempo eu fui estudante de jornalismo e tive a oportunidade de estagiar na Rádio UFMG Educativa, uma rádio que funciona dentro do Campus da UFMG, em BH. Comparada às grandes rádios comerciais, é uma rádio bem pequena, e ainda assim tínhamos pouco tempo para fechar as matérias. O que quero dizer é que a imprensa trabalha com prazos que têm de ser cumpridos, prazos que raramente são suficientes para que o jornalista se prepare devidamente para o trabalho. Ou seja, raramente há tempo para pesquisar suficientemente sobre o tema. No meu caso, eu tinha algumas horas para me informar sobre o assunto, ir ao local para fazer as entrevistas, voltar para a rádio, redigir e fechar a matéria. É muito pouco. Portanto, acredito que a má preparação dos jornalistas para fazer uma matéria não é somente culpa deles, apesar de eu achar que, no caso do vídeo que eu cito, o jornalista foi preguiçoso, leu pouco e quis criar polêmica, como Amarante argumentou. O fato é que uma parcela da culpa é do sistema, que massacra e oprime os jornalistas, funcionando com uma lógica própria que difere, em parte, dos interesses do público. Pretendo discutir mais sobre a lógica da imprensa em um futuro próximo.
Rafael de Paula da Silva
Segue abaixo o vídeo citado nesse texto.