domingo, 10 de outubro de 2010

Sobre 2001: Uma odisséia no espaço


Honestamente, sinto-me, enquanto escrevo, extremamente receoso de dizer toda e qualquer tipo de asneira sobre este filme. Afinal, Stanley Kubrick é sinônimo de inteligência, crítica, sagacidade e perspicácia. Logo, quem seria eu para analisar um filme de tamanho brilhantismo – aparente – e tamanho impacto em sua época (foi lançado em 1968). Portanto, não terei a presunção de analisá-lo. Apenas falarei sobre aquilo que instigou minha curiosidade e aquilo que me inquietou neste filme, de forma que cogito a possibilidade de estar completamente enganado. O filme é assaz complexo e, se você, leitor, não viu, não vale a pena ler este texto.

Enquanto assistia, não foi um filme que me trouxe prazer e admito que tive que me esforçar para terminar. No final do filme, fiquei com a sensação de não ter compreendido absolutamente nada. Tudo acontece com uma lentidão que chega a ser irritante: as naves voam lentamente, as pessoas se movimentam devagar, não há cenas de ação daquelas típicas de filmes que se passam no espaço, a apresentação dos cenários é lenta e vagarosa e os próprios diálogos são calmos e sem qualquer traço de exaltação. Enfim, tudo é propositalmente lento.

Neste filme parece que Kubrick questiona os verdadeiros propósitos dos conhecimentos adquiridos pelos homens e, possivelmente, alerta os cientistas sobre os possíveis perigos das descobertas científicas. Imagino que a lentidão do filme é um aviso: “Calma lá, ciência, você está indo rápido demais!”. Pode ser que os conhecimentos adquiridos pelos homens sejam tamanhos que o próprio homem perca o controle sobre eles (tal como ocorreu com os macacos que, a partir de sua descoberta, mataram um semelhante; e com a máquina que matou os tripulantes de sua nave pelo medo de ser desligada). Vemos, portanto, que o conhecimento e a ciência podem dominar o homem! O medo de a humanidade não estar preparada para certas descobertas científicas se reflete na cena em que fica claro que os cientistas estão omitindo informações sobre a descoberta do monolito. É bastante cômica a parte em que o homem lê um manual de instruções sobre como utilizar o toalete em um ambiente com gravidade zero (isso foi genial! Imaginem como seria fazer as necessidades fisiológicas num ambiente onde tudo levita? Seria bastante desagradável entrar em um banheiro com coisas estranhas levitando por todos os lados!), parte que, mais uma vez, revela o despreparo dos homens com relação àquilo que eles inventaram (afinal, suas descobertas modificam a eles mesmos e a sua própria forma de viver). A mensagem de Kubrick pode ser a seguinte: “Não estamos preparados para avanços tão rápidos em todas as áreas do conhecimento". A ciência evolui muito mais rapidamente do que a mente e a sabedoria humana. Teremos tantas coisas disponíveis que não saberemos como utilizá-las e, pior, poderemos utilizá-las de formas mal intencionadas ou mesmo negligentes!* Viagens à parte, foi esta a minha interpretação.

A atualidade do filme se revela na parte em que a máquina HAL 9000, que se dizia infalível e incapaz de cometer um erro sequer, falha e, com medo de ser desligada pelo seu erro, mata os tripulantes da nave que ia em direção a Júpiter. É atual porque vemos aí um confronto entre homem e máquina (criador x criatura) que pode remeter, simbolicamente falando, a uma disputa entre homem x deus (o homem desafia Deus, seu criador, ao transformar o mundo e a si mesmo, alterando tudo aquilo que foi perfeitamente criado). Fiquemos atentos: no filme de Kubrick, o criador leva a melhor sobre a criatura!

É interessante notar que, no final do filme, quando o único sobrevivente da nave (que consegue desligar HAL 9000) chega a Júpiter, ele começa a envelhecer rapidamente, sempre encontrando no caminho o seu “eu” mais velho e assumindo sua perspectiva. Por fim, deitado numa cama, quase inválido, ele se depara com o monolito negro e, surpreso (tal como os macacos e os astronautas anteriormente mandados à lua), aponta para ele. Depois disso, ele rejuvenesce (ou renasce?) e assume a forma de um bebê que, em posição fetal, está envolto por uma espécie de bolha. O bebê “entra” no monolito e aparece, no espaço sideral, diante da Terra, fitando-a longa, reflexiva e fixamente. A atemporalidade e universalidade das questões levantadas (se realmente forem estas) no filme é impressionante. Será que Kubrick aponta para uma necessidade do homem de renascer, ou seja, repensar essa busca desesperada pelo conhecimento e novas tecnologias, transformando, sem qualquer comedimento, o mundo no qual ele vive? Ou será que ele mostra a característica cíclica da existência humana (ou seja, tudo se repete e o homem envelhece para depois renascer)? Ou nenhuma das duas hipóteses levantadas? Por fim, será que é a ciência, sinônimo de prosperidade e objeto de orgulho da humanidade, esta tão estimada ciência, que levaria o homem à destruição?

Rafael de Paula

*Ironicamente, 2001: Uma odisséia no espaço ganhou o Oscar de melhores efeitos especiais.

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