sábado, 6 de agosto de 2011

Sobre a espera

Façamos da espera uma luta. Podem alguns, com certo acerto, argumentar o contrário. São todos argumentos, e estes nada mais são do que candidatos ao status de verdade. Disputam o pódio de bases trêmulas e quando nele chegam se embebedam da e na sua própria condição. Afinal, não há nada mais verdadeiro que as vicissitudes inerentes à vida; e não há nada mais fugaz que uma verdade. É verdade que até a verdade mais verdadeira pode deixar de ser verdade. Anáfora. Pleonasmo. Verdade! Mas eu falava da espera. Resistirei a cair noutra tergiversação desnecessária, que tanto atrapalha a comunicação duma ideia; afinal escrevemos para sermos compreendidos. Escrevemos para ser. Sem complicações. É verdade. Retomo, então: façamos da espera uma luta. Façamo-nos vivos na espera. Mas há aí qualquer coisa de incongruente. Algo aqui não satisfaz. Não é preciso mudar tanto a estrutura duma frase para lhe dar outro sentido. Fá-lo-ei: façamos da luta uma espera. Agora sim isso me parece suficientemente aceitável como argumento. Não como verdade; pois não quero mais ideias bêbadas, dessas que cambaleiam e titubeiam de tão tontas. Por fim: da espera, esperança. Mas cuidado, muito cuidado.


Rafael de Paula