Num dia desses percebi que, apesar de eu me interessar pela história dos filmes Star Wars, eu nunca tinha visto os filmes antigos (A New Hope, 1977; The Empire Strikes Back, 1980; e The Return of the Jedi, 1983). Como se não bastasse, eu não entendia muito bem sobre os rebeldes e o império, as facções antagônicas da história – não que a compreensão disso represente um grande desafio para o intelecto. Enfim, eu baixei todos os filmes e fiz algo que vai contra todos os meus princípios: assisti-os dublados.
As história dos filmes antigos baseia-se na jornada de Luke Skywalker, um jovem que luta contra o império (fazendo parte das forças rebeldes) e procura ser um Jedi. Guiado pelo mestre Yoda e, principalmente, por Obi Wan Kenobi, Luke luta contra as perversas forças imperiais (representadas por Dart Vader e pelo Imperador, que tentam levar o jovem Jedi para o lado negro da força), com o objetivo de resgatar a paz e a liberdade no universo.
A New Hope (1977)
Admito que tive que me esforçar nos momentos iniciais do filme. Afinal, é um filme da década de 70, com efeitos especiais bastante inferiores aos efeitos dos filmes mais recentes. Quanto a estes últimos, um deles foi gravado no final da década de 90 e os outros nos anos 2000 (The phantom menace, 1999; Attack of the clones, 2002; e The revenge of the Sith, 2005). Contudo, percebi que os efeitos especiais eram fantásticos para a época em que foram gravados e passei a dar muito mais valor ao filme (não que efeitos especiais sejam tudo). É assim que temos que fazer quando vemos, lemos ou escutamos algo de uma época passada: devemos vê-lo considerando o contexto no qual foi criado. Portanto, considerando o contexto no qual foi criado, Star Wars – A New Hope é uma grande produção e um filme muito bom.
O filme começa com um ataque do império a uma nave consular, na qual estava a princesa Leia, portadora dos planos de uma estação espacial imperial, a Death Star. Antes de ser capturada, a princesa escondeu os planos no simpático robô R2D2, com a esperança de que sua mensagem e os planos chegassem ao velho Ben Kenobi. Por força do destino, a unidade R2D2, juntamente com seu companheiro C3PO, caem nas mãos do jovem Luke Skywalker. A partir daí começa a jornada de Luke para se tornar um jedi. O resto do filme todos já sabem (e quem não sabe, que crie vergonha na cara e veja!).
The Empire Strikes Back (1980)
Neste filme o jovem Luke Skywalker já se mostra mais maduro, apresentando-se como um piloto competente que possui a confiança dos seus companheiros e espírito de liderança. Uma das cenas mais interessantes é a luta entre Dart Vader e Luke Skywalker. Nela, percebe-se a diferença de forças entre os dois (Vader ainda é mais forte) e é nela que ocorre a primeira investida de Vader sobre o jovem, tentando atraí-lo para o lado negro da força.
The Returno f the Jedi (1983)
O garoto se transforma num Jedi. Com forças suficientes para enfrentar o império, Luke Skywalker fica, mais uma vez, cara a cara com seu pai, o Lord Dart Vader. No final das contas, Anakin Skywalker, ao contrário do que o próprio Obi Wan Kenobi disse, ainda existia. O que me incomoda nesse filme é o fato de pequenos ursinhos da floresta terem contribuído tanto para a vitória dos rebeldes. Poderiam ter colocado algo mais interessante do que ursinhos primitivos armados com palitos e pedras...Ora, francamente!
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Star Wars mostra o conflito entre o bem e o mal, lados – obviamante – antagônicos e bem definidos na trama. Star Wars tenta mostrar a vulnerabilidade do espírito humano e a sua constante luta para não sucumbir ao lado negro (vemos isso mais claramente em Anakin e Luke Skywalker). É interessante notar como as figuras maliciosas normalmente se vestem com cores escuras, possuem a aparência repugnante e possuem vozes graves e/ou roucas. O imperador possui a pele cadavérica e se veste sempre de negro; Dart Vader é uma figura completamente coberta pela cor preta e, quando tira a máscara, vemos um rosto completamente desfigurado e cadavérico, tal como o imperador. As figuras bondosas, por sua vez, costumam se vestir de branco e apresentar rostos bonitos e simpáticos. Luke Skywalker é um simpático jovem loiro dos olhos azuis; Leia é uma bela jovem que sempre se veste de cores mais fracas. Percebemos que os traços de cada facção – ou dos seus principais representantes – são bastante característicos, e isso não se restringe a Star Wars: é um padrão da indústria holywoodiana. Percebemos, portanto, o culto à beleza impregnando o filme. O feio e grotesco são ruins e devem ser desprezados - e, porque não, aniquilados. Vale lembrar a presença do tradicionalismo paternalista no filme: o único indivíduo que consegue se livrar do lado negro da força e purificar sua alma é Dart Vader, fato relacionado única e exclusivamente à influência de seu filho. Portanto, percebemos valores tradicionais como a importância da família na sociedade e na formação dos indivíduos.
Fico pensando se na vida real o bem e o mal estão realmente tão bem definidos e evidentes como no filme. Na vida real, acredito que isso é relativo. O bem e o mal não são valores coletivos, mas sim individuais. O bem para um pode ser o mal para o outro, e vice-versa. Mesmo que estes lados estejam bem definidos para a maioria, não são valores universais. Com relação a essa dualidade, comparo-a com teoria do Yin-Yang. O bem só é bem quando comparado com o mal; o mal só é mal quando comparado com o bem. Assim, um depende do outro para existir. Além disso, nada é totalmente bom ou totalmente mau: estes dois lados coexistem dentro do próprio indivíduo e dentro da coletividade. Resumindo: bem e mal são relativos, coexistem e são dependentes. E Star Wars parece não compartilhar deste pensamento, salvo figuras isoladas. Mas aí já é querer demais para um clássico holywoodiano...
Enfim, para quem está acostumado às pomposas e acrobáticas lutas dos três filmes mais recentes de Star Wars, é bem provável que haja um estranhamento com relação às lutas dos filmes mais antigos. Afinal, não possuem toda a ação e plasticidade dos filmes mais recentes. Star Wars é uma produção holywoodiana clássica: construção da figura do herói (Luke), romance, final feliz e muito dinheiro investido. Ainda assim, vale a pena assistir.
Rafael de Paula
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