terça-feira, 12 de abril de 2011

Sobre O encontro marcado

Todos nós temos um encontro marcado. Levados por contingências, por vezes, perdemos a direção da nossa vida; ficamos com o motor, mas passamos o volante para o destino. Inexorável. Retomamos e perdemos o controle por várias vezes. Uma circularidade inevitável da vida.

Na infância, caso esta seja saudável, os homens ocupam-se apenas dos seus sonhos e fantasias. Imaginam ser tudo que tem direito; querem ser como papai, como mamãe; astronautas; jogadores de futebol; modelos; atores, atrizes. E fantasiam, inventam e, por isso, vivem. É a única fase em que o ser humano tem a capacidade de tocar o outro pela singeleza da sua existência. Na adolescência querem mudar o mundo e, paralelamente, buscam, ansiosos, o sentido da vida e da nossa existência. Continuam com os mesmos sonhos e devaneios da infância, mas desta vez com um propósito, um objetivo. Dotado de uma vontade e desejos inexpugnáveis, inspirado nos heróis (idealizados, como todo bom herói da adolescência deve ser), o jovem quer mudar o mundo e tem certeza absoluta de que irá fazê-lo. Pouco mais adultos, já se veem adentrando no tecido social. Veem seus sonhos do outro lado do pano, percebendo um avanço que demandará, inevitavelmente, a ruptura de alguns dos laços sociais. Em outras palavras, se verão obrigados a ir contra o senso comum. Na vida adulta propriamente dita, veem-se tolhidos da busca dos seus ideais: os laços sociais que impedem o alcance dos seus objetivos estão mais fortalecidos, assim como ele se encontra mais embaraçado nessa rede de interconexões até certo ponto inevitáveis. É aí que percebem o abismo existente entre o que queriam ter sido na infância e o que se tornaram. É como se acordassem, repentina e subitamente, de um devaneio que se arrasta desde o nascimento. Aí vêm as perguntas existenciais: “que tenho feito da minha vida até hoje?”; “o que busco?”; “o que alcancei?”; “quem gostaria de ser?”; e, finalmente, “quem sou?”. É aí que percebem que não mudaram o mundo e que, mais triste ainda, estão longe de mudar. É aí que buscam um sentido para sua existência, uma busca dotada de mais temperança e equilíbrio do que aquela que caracteriza a adolescência. Finalmente, na velhice, compreende-se que a incapacidade de mudar o mundo não decorre de deméritos individuais, mas sim da naturalidade da vida humana. Concluem que seus atos não têm tanto peso como imaginavam – ou queriam – e que isso é o esperado de um ser humano. Compreendem que são poucas as coisas que realmente importam. Encontram-se consigo e com o outro. Espantam-se ao olharem para trás e verem os caminhos aos quais o destino os levou. Um destino dentre vários destinos. Destinos escolhidos, até certo ponto. Por vias tortuosas, alcançam seu encontro marcado.

Todos nós temos um encontro marcado. Não que já nasçamos com um destino previamente traçado, imutável, no qual aguardamos, hirtos, a sua consecução. Temos um encontro marcado com o destino. Ou melhor: com os destinos.

Rafael de Paula

2 comentários:

  1. Eu sinceramente espero que o nosso laço social não te impeça de alcançar seus objetivos.

    ResponderExcluir
  2. Muito pelo contrário, meu velho amigo. Há laços e laços sociais. Alguns nos prendem e outros, por outro lado, nos libertam e nos fortalecem. E são laços como o nosso que nos permitem alcançar nossos objetivos e, quem sabe, mudar o mundo.

    ResponderExcluir