domingo, 9 de janeiro de 2011

Sobre votos e esperanças do Ano Novo

“Que esse ano que chegou traga muitas felicidades e realizações”. A mensagem é linda. Dizemos isso a todas aquelas pessoas que gostamos na virada do ano (se falar alguns dias antes ou alguns depois também vale) e, na maioria das vezes, esses votos são realmente sinceros. Não acho tais felicitações hipócritas ou vãs. São felicitações mútuas entre pessoas que se gostam (claro que pode haver algum toque de falsidade e hipocrisia, mas tais sentimentos merecem apenas esse anexo neste texto. Deixar-los-ei para trás, jogados e esquecidos). Ano novo, natal, aniversário, todas essas datas comemorativas (dentre outras das quais não me recordo) nos proporcionam um momento oportuno para desejar coisas boas às pessoas. Coisas que gostaríamos de falar sempre que não encontram muitos momentos para serem ditas. Imagine uma pessoa que, ao chegar no trabalho, cumprimente cada um, todos os dias, e deseje saúde, paz, felicidade, amor, dinheiro, dentre outros. São votos implícitos, num acordo tácito, que não necessitam ser ditos todos os dias ou até mesmo em ocasiões especiais. Se gostamos de alguém, revelar-lhe que queremos o seu bem é algo inútil e até redundante: gostar é querer bem. Mas pela tradição, fazemos isso e continuaremos a fazer, até o dia em que as pessoas percebam que basta dizer “gosto muito de você”.

Dito que o Ano Novo é apenas uma oportunidade de desejar bem às pessoas queridas e amadas, que dizer das nossas promessas (geralmente nunca cumpridas) para o ano que acabou de chegar? “Vou estudar mais”, uns dizem. “Vou ser uma pessoa mais calma”, dizem outros. O que realmente muda na passagem do dia 31 de Dezembro para o dia 1 de Janeiro? Em nós, praticamente nada. É só a esperança que se renova. É a esperança de ter um ano melhor do que tivemos. Assim, a própria festa de réveillon ou mesmo a ceia natalina entram no campo do simbólico. Elas representam essa renovação da esperança. E festejamos – sim, festejamos a esperança. E ao festejá-la, a colocamos em um patamar mais elevado. Jogamos para o simbólico um pouquinho das responsabilidades de trazer coisas boas na nossa vida. É como quem diz: “To cansado de ficar correndo atrás de tudo. Então, me dá um pouco, por favor?”. Afinal, “esse ano as coisas têm – sim, não me adaptei às novas regras gramaticais – de melhorar!”. Ora, sem esperança não chegamos a lugar algum. Mas porque não renovar a esperança a cada dia? Porque não traçar metas maiores para o dia seguinte ou para a hora seguinte? Porque deixar isso ao encargo de um algo que existe no “ano novo”? É um algo que, diante de uma impotência natural do ser humano, acalma nosso espírito. Mas, no fundo, isso tudo é um pouco de desespero. De todos nós.

Rafael de Paula

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