sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sobre Rocky

Adianto, desde já, que sou fã da série Rocky. A produção não tem nada de mais, o enredo é simples e os atores variam entre nível médio e ruim (sim, até Silvester Stalone se encontra neste grupo). Ainda assim, gosto muito de todos os filmes da série, e há algum tempo venho me perguntando o porquê. Já tenho uma teoria, mas pretendo desenvolvê-la nesse texto. Afinal, é tentando colocar no papel e tentando explicar para os outros que, sem perceber, elaboramos ainda mais nossas idéias e enriquecemos nosso pensamento. Não entremos nos deméritos da indústria Holywoodiana: as coisas boas da série superam o patriotismo – quase – exacerbado presente no filme. Além do mais, há tantas coisas criticáveis no filme que elas não caberiam aqui. Fica para a próxima.

Rocky Balboa é um lutador de boxe do subúrbio da Filadélfia cujo nome de lutador é Garanhão Italiano (pela sua descendência italiana, não tão obviamente quanto pode parecer). É sempre criticado por seu treinador (Mickey) por estar desperdiçando seu potencial e parece estar satisfeito em lutar regionalmente. Rocky é um homem de pensamento extremamente simples e que não sabe fazer muitas coisas além de lutar. Ele é grande, forte, mas é burro. E
ntretanto, é essa simplicidade de pensamento que faz com que ele diga algumas das coisas mais sábias e geniais do cinema: é por ser simples que ele vê o óbvio, aquilo que todo mundo complica e/ou se recusa a ver. Assim como outros personagens, como Forrest Gump, Rocky é um dos imbecis mais geniais do cinema. Visto por esta ótica, Rocky é um exemplo de homem: simples, bom e puro. É claro que a criação do personagem tem interesses menos dignos, mas não falarei sobre isso aqui. Falarei apenas que é interessante Rocky virar um modelo de comportamento e modelo de homem.

Voltando a falar sobre o primeiro filme (Rocky, o Lutador – 1976), Rocky recebe um convite do campeão mundial dos pesos pesados (Apollo Creed) para uma luta de “exibição”, ainda que valendo o cinturão. Escolhido apenas por possuir um nome bonito e garboso, o Garanhão Italiano tem a chance de se realizar na carreira de boxeador. Ainda que assolado pela dúvida e pelo medo, Rocky aceita o convite do campeão e passa a treinar como nunca. O talentoso boxeador desperdiçado nos subúrbios da Filadélfia encontra um objetivo maior e, com isso, a motivação para treinar a sério. O campeão, que não esperava nada do seu oponente e nem que ele ameaçasse seu título, não sabia que tinha escolhido a pessoa errada para a sua exibição. É aí que está o bonito de Rocky: um homem simples e bom que nunca desiste dos seus objetivos, mesmo que todos duvidem dele (e que ama sua mulher, Adrian, acima de tudo). Inclusive, em todos os filmes, há o mesmo roteiro: surge um desafio, seguido por uma dúvida sobre a capacidade de alcançá-lo, depois a decisão de enfrentar tudo e todos e, no final, a superação, dedicada à Adrian. A trilha sonora é emocionante e as conquistas do sábio imbecil são ainda mais. Não desistir dos seus objetivos, lutar até as suas últimas forças, encontrar forças aonde aparentemente não há nada, ser bom, ser simples e ser feliz são as lições dadas por Rocky Balboa.

O filme pode ser considerado idiota, mal produzido, nacionalista/patriota, anti-comunista, pró-violência, machista, tradicionalista, dentre outros, mas ainda assim a lição principal do filme pode ser utilizada como um argumento contra tudo o que for criticável na série. Se é para ir contra os EUA, lute e não desista, não importa o que digam; se for para combater o machismo, faça o mesmo; se for para criticar o capitalismo, faça o mesmo; se for para criticar o patriotismo, idem. Daí a minha admiração pela obra.

Para terminar, uma das frases mais excepcionais do cinema: “Yo Adrian, I did it!”. Que isso seja uma lição e uma meta para todos.

Rafael de Paula


*Ao todo, são 6 filmes: Rocky, o Lutador (1976), Rocky II (1979), Rocky III (1982), Rocky IV (1985), Rocky V (1990) e Rocky Balboa (2006). Indico todos os filmes e também vale a pena conferir a trilha sonora, feita, em sua maior parte, por Billl Conti.

**O primeiro vídeo é uma conversa entre Rocky e seu filho - de nome nada criativo - Robert Rocky Balboa Jr., que mostra a profundidade simples do personagem de Stallone.


***O segundo é a cena da histórica frase “Yo Adrian, I did it”, que sintetiza a mensagem principal da série.

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